Candomblé! Uma das crenças mais antigas do planeta



Os ‘Cultos de Nação’, ou Candomblés, como são mais conhecidos, foram organizados por negras forras que, possuidoras de certos recursos, se uniram para construir comunidades religiosas mantenedoras dos costumes dos antepassados saudosos e até então distantes. Dentre essas distintas e corajosas negras, podemos citar Iyalussô Danadana, Iyanassô Akalá, Marcelina Obatossí e os negros Babá Assiká e Bangboxé, entre outros.
Os passos desses personagens ilustres da fundação da primeira comunidade (Ile Asè) no Brasil, até o Candomblé dos dias atuais, foram marcados por viagens à Àfrica para o resgate de fundamentos e tradições, reencontro de famílias separadas pelo tráfico negreiro, distanciadas há mais de 300 anos; e pela imigração de inúmeros negros que, entusiasmados pela formação de um culto novo e pela possibilidade de prosperidade, até mesmo material que o mesmo poderia trazer a seus fundadores, se transferiram da África ao Brasil, trazendo consigo seus conhecimentos, cantigas e o ‘saber’ africano de cuidar dos Orixás.
Segundo Pierre Verger, no livro ‘Orixás’, na África, cada Orixá estava ligado originalmente a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais, Xangô em Oyó, Yemanja na região de Egbá, Euá em Egbado, Ogum em Ekiti e Ondô, Óxum em Ijexá e Ijebu, Oxossi em Ilobu, Logunedé em Ilexá, Otin em Inixá, Oxalá em Ifé, subdivididos em Oxalufan em Ifan e Oxaguian em Ejigbô... Os Orixás viajaram, em seguida, para outras regiões africanas, levados pelos povos no curso de suas migrações.
Se as pessoas formavam um grupo numeroso, o Orixá tomava tal amplitude que englobava o conjunto da família, e alguns Olorixás, sacerdotes do Orixá, asseguravam o culto para todo o grupo. Se alguém se fixava com a família, restrita à mulher e aos filhos, o Orixá assumia uma feição mais pessoal. Quando o africano era transportado para o Brasil, o Orixá tomava um caráter individual, ligado à sorte do escravo, agora separado do seu grupo familiar de origem.
A qualidade das relações entre um indivíduo e o seu Orixá é, pois, diferente, caso ele se encontre na África ou no Brasil. Na África, a realização das cerimônias de adoração ao Orixá é assegurada pelos sacerdotes exclusivos do mesmo. Os outros membros da família ou grupo não têm outros deveres senão o de contribuir materialmente para os custos do culto, podendo, entretanto, se assim o desejarem, participar nos cantos, danças e festas animadas que acompanham essas celebrações. Devem, além disso, respeitar as proibições alimentares e outras, ligadas ao culto de seu Orixá, e, assim agindo, estão perfeitamente em regra com as suas obrigações.
No Brasil, ao contrário, cada um deve assegurar pessoalmente as minuciosas exigências do Orixá, tendo, porém, a possibilidade de encontrar num terreiro de Candomblé um meio onde inserir-se, e um Pai ou Mãe de Santo competente, capaz de guiá-lo e ajudá-lo a cumprir corretamente suas obrigações em relações ao seu Orixá.
Se a pessoa for chamada a tornar-se Filho de Santo, caberá igualmente ao Pai ou Mãe de Santo a tarefa de levar a bom termo a sua iniciação, e preparar o assento de seu Orixá individual (o vaso que contém os seus Otá, as pedras sagradas, receptáculos da força do seu Deus).
Existem, assim, em cada terreiro de Candomblé, múltiplos Orixás pessoais, reunidos em torno do ‘Orixá do Terreiro’, símbolo do reagrupamento daquele Deus que foi disperso pelo tráfico.
As iniciações e todos os fundamentos dos Cultos de Nação são recheados de Africanismos, deste o idioma predominante até os costumes de comer, dormir e banhar-se, incluindo-se até os sacrifícios a animais – atividade bastante questionada atualmente. O ato de ‘iniciar-se’ traz ao iniciado uma vida inteira de dedicação, aprendizado e respeito com o Axé do Orixá, recebido por meio do fundamento pelo qual passou.
O mundo do Candomblé é um mundo de segredos, humildade, respeito e muito estudo, repleto de conhecimentos muito distantes da nossa realidade ocidental e contemporânea.
Igbàsé

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