O Candomblé é muito mais que assistir a festa num barracão.


A casa de Candomblé detém três períodos cabais, o Antes, o Durante, e o Depois. Entenda o funcionamento de uma festa no terreiro de candomblé.

O Antes.

É quando toda casa é mobilizada em função da obrigação que está por acontecer, quando o quadro de Ogáns é convocado para os reparos, são os retoques das paredes rachadas, nos buracos do cimento do piso, das podas das arvores, dos dendezeiros, dos bambuzais, das pinturas internas no Ronkó, nos quartos de Santo, na caiação dos muros, nos concertos do telhado, que normalmente quando chove molha abundantemente. É hora do jogo de búzios falar o que o Orixá quer, como quer, quando quer, quais serão os Ebós necessários a esta obrigação, definição das datas das obrigações internas, os HORÁRIOS, como angariar recursos para manutenção da casa e da festa neste período, afinal, a casa estará cheia, e é necessário que não haja excaces ou mesquinharia, o Orixá não é mesquinho, come, bebe, canta e dança do nascimento a morte, portanto, a casa entrará em função, estará em festa.

O Sarapegbé levará o convite oral a todas as casas individualmente, comunicará a todos os integrantes que por alguma razão não puderam comparecer a roça, as determinações do Orixá, tais como, cores das vestimentas, dias de permanência na roça, sua cota de contribuição, e outras, este é o serviço do Sarapegbé. Estando a casa em ordem, e todas as providencias tomadas, começam a chegar os filhos que não moram no AXÉ, é comum a casa Ter um quadro permanente de filhos residentes, permanente mas cíclico, que funciona muito bem, alguns filhos chegam na casa sem eira nem beira, e ao longo do seu processo iniciatico, isto quer dizer de sete em sete anos, tomam rumo na vida, e deixam de morar na casa do candomblé.



O Durante.

É o período em que as obrigações acontecem, os Ebós, os sacudimentos, os agrados de Exú, o ritual do Ipadé, os agrados dos Ancestrais, e finalmente os Ebós para o indivíduo, aquele filho ou filha que estará entrando em obrigação, todo ser tem uma individualidade cósmica, e esta, deverá ser levada em consideração, pois esta trajetória é incomum, não funciona como livro de receita Note e Anote, trata-se de uma Matemática Enigmática, pessoal e individual, e dentro da contagem do Orixá a ser cultuado, acontece a festa, todos os Orixás presentes vestem suas roupas e portam os seus símbolos de poder, e o Orixá senhor da Obrigação, demonstra sua satisfação dançando, abraçando todos os presentes, e deixando todos muito emocionados. Esta é uma facção deste período, que por ser publico, acontece no salão de festas do barracão.

O Depois.

Ajeum ou Banquete.
Banquete no ritual de candomblé. Quando é encerrado o candomblé todas as filhas da casa ocupam seus postos e começam a distribuir a comida ritual do banquete farto. Sempre tem comida para todos e sempre sobra. Esse banquete é composto de cabritos assados ou cozidos, galinhas, patos, pombos, canjica, milho cozido, inhame, pipoca, acaçá, acarajé, toda comida ritual servida ao Orixá é distribuída para os presentes. Muitos candomblés não permitem bebidas alcoólicas nesse caso é servido o Aluá, nas casas que permitem é servido refrigerante e cerveja.

Algumas casas atualmente não servem comida de santo para os presentes, dependendo das posses do iniciado poderá se contratar um Buffet para o banquete onde serão servidos aos convidados todos os requintes contratados.

É o período da finalização, de suspender a Obrigação, do Carrego final chamado Urupim, é hora da restituição, de devolver a Terra o que a ela pertence, das prestações de conta a Babá Onilè, de que tudo que fora pedido foi usado, que não houve desperdícios, e esta é uma das Obrigações mais importantes, porque é imprescindível saber iniciar, porem, é muito mais saber finalizar.

No mesmo dia ou não, dependendo do costume da casa, as luzes elétricas são desligadas, e inúmeras velas são acesas, ouve-se um cântico tristonho como nos rituais fúnebres axexê, o Iaô cercado dos mais velhos, Iyaefun, Iyadagan, iyamorô, Iyabassê Iyakekerê e puxada pelo Babalorixá ou Iyalorixá é trazido do peji ao ile axé com um alguidá ou balaio coberto com pano branco e ornado com flores brancas e mariwô, contendo inumeros objetos, comida ritual e o cabelo rapado no inicio da obrigação. Este ritual é denominado pelo povo do santo de carrego de urupim e pode ser assistido por alguns membros da comunidade, mas não chega a ser uma festa pública, fechando um ciclo do rito de passagem de abiã "não nascido" para iaô "noviço ou recém nascido".

Passada a festa o Iaô ficará mais uns dias na roça dependendo do jogo de búzios e a confirmação no merindilogun, depois será levado para sua casa pela Iyalorixá que a entregará a sua família, todavia só depois do Ritual do Panã.

O iaô ainda desorientado devido ao longo período de transe e clausura, com os movimentos ainda trôpegos, recebe orientação do seu Babalorixa ou Yalorixa para executar as tarefas que serão usadas em seu dia a dia, tais como varrer, costurar, lavar, passar, sentar-se à mesa, cozinhar, etc. Numa dramatização muito divertida onde todos da comunidade tem um grande prazer de participar, rindo e até mesmo ajudando o novo iniciado. O ritual de apanã tem a finalidade de fazer com que o noviço reaprenda as atividades do mundo profano e cotidiano, para que nada lhe seja prejudicial no futuro e também entenda que já é hora de voltar à sua vida normal, apesar de aproveitar mais um pequeno período do seu mundo sobrenatural, estabelecendo neste momento o ewo temporário ou permanente, que o noviço terá a responsabilidade de obedecer, finalizando este ritual com outro rito chamado Kàrô (juramento feito diante do obi e uma quartinha).

A roça de candomblé tem funções diversificadas no seu quadro de atividades , prioritariamente é vista como templo religioso , o que é fato e notório , é uma sociedade religiosa sem fins lucrativo , que independente de oferecer aos seus neófitos e fies , os dogmas sagrados dos rituais de iniciação e obrigações subsequentes , diárias, anuaís , eventuais ou ocasionais , servem também de abrigo , de porto seguro , para todos que realmente precisa.
Autor;Orossi

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